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Depressão pós-parto: 20% das mulheres com sinais não pedem ajuda

Ao deixar de relatar a ansiedade e o estresse depois do parto, muitas mães não recebem o tratamento para essas desordens

O debate sobre saúde mental tem sido cada vez mais aberto na sociedade. Ainda bem! Mas alguns grupos têm dificuldade para falar sobre o tema, como mostra um estudo publicado no Maternal and Child Health Journal. Segundo o trabalho, apenas uma em cada cinco mulheres vai atrás de ajuda enquanto sofre de desordens de humor típicas da depressão pós-parto, como ansiedade e estresse.

Anonimamente, cientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, analisaram uma amostra de 211 mulheres que tinham dado à luz há, no máximo, três anos. Elas responderam, por exemplo, se experimentaram sintomas de depressão pós-parto e se relataram essa situação a profissionais de saúde (como doulas, enfermeiros ou médicos). Além disso, passaram várias informações sobre sua saúde mental e os obstáculos para buscar auxílio.

Com os questionários em mãos, os pesquisadores notaram que 51% das voluntárias preencheram os critérios para o quadro de desordens de humor ligadas ao pós-parto. E olha que preocupante: cerca de metade das participantes revelou encontrar barreiras que tornavam a procura por ajuda algo “extremamente difícil” ou até mesmo “impossível”. Mais de um terço delas, aliás, admitiu possuir apoio social insuficiente.

“Nosso estudo mostra que muitas mulheres que poderiam se beneficiar do tratamento não estão sob cuidado. Isso porque elas não contam para ninguém sobre suas dificuldades”, disse Betty-Shannon Prevatt, líder da pesquisa, para o site da universidade.

De acordo com ela, já é sabido que de 10 a 20% das mães sofrem com abalos de humor significativos depois do nascimento do filho – e isso pode afetar negativamente o bem-estar físico e emocional tanto da mulher quanto do bebê. Só que expor tais sintomas é o primeiro passo para tratar o quadro.

O trabalho não chegou a identificar as barreiras específicas que atrapalham o compartilhamento dos apuros no pós-parto. Mas foi possível notar que mulheres com histórico de problemas de saúde mental, desempregadas ou com sintomas mais severos costumam encontrar dificuldade maior na busca por amparo.

“Precisamos fazer com que seja OK para elas falarem sobre sua saúde mental. Assim, podem ter  melhor acesso ao tratamento. Trabalhar com as pessoas que convivem com as novas mães pode ser a chave”, comentou Prevatt.

Fonte: www.saude.exame.com.br

 

Realidade virtual chega à terapia para tratar fobias e ansiedade

Parece episódio dos Jetsons, mas é apenas a tecnologia sendo bem empregada

Imagine a situação: você procura uma psicóloga para tratar ansiedade ou alguma fobia e, na primeira consulta, ela lhe oferece parte do tratamento em sessões de realidade virtual. Assim, de cara, pode parecer estranho, né? Mas é uma tendência: já são mais de 300 profissionais no mundo todo aproveitando esse auxílio tecnológico com seus pacientes.

No Brasil, uma das pioneiras no uso da realidade virtual em terapia para fobias e ansiedade é a psicóloga Nataly Martinelli. Conversamos com ela para entender melhor como funciona esse negócio de colocar óculos no rosto dos pacientes, exibir imagens do que lhes causa fobia ou ansiedade e monitorar suas reações àquilo que precisa ser tratado.

Para começar, quais são os casos passíveis de tratamento com realidade virtual?

Nataly – São muitos: síndrome do pânico, fobia de viajar de avião, fobia de injeções e agulhas, fobia de animais, medo de dirigir, medo de falar em público, agorafobia [medo de estar em lugares ou situações que possam causar constrangimento ou pânico], medo do escuro, claustrofobia [medo de ficar em ambientes fechados], TOC [transtorno obsessivo compulsivo], ansiedade e ansiedade antes de exames ou provas.

Qual é a vantagem de usar realidade virtual em um tratamento psicológico? O que ela oferece que a “realidade real” não é capaz de oferecer?

No tratamento convencional de fobias e ansiedade, o enfrentamento do medo é feito pela imaginação, com situações sendo sugeridas e o paciente pensando nelas. Só lá no final pode haver uma saída a campo, monitorada, para a pessoa vivenciar tudo de uma vez. O tratamento com realidade virtual é mais imediato e intenso, porque as situações são colocadas diante dos olhos do paciente, literalmente, nas imagens exibidas nos óculos.

Como a pessoa consegue ver cenas vívidas do que causa fobia ou ansiedade sem que isso lhe cause ainda mais pavor ou sensações ruins?

Ela vai enfrentando aos poucos e eu controlo todo o processo, para ser gradativo. Controlo inclusive as características do ambiente, como a temperatura do consultório, para se adequarem à situação que é mostrada nas cenas dos óculos. É como em um videogame, o paciente passa por fases. E só passa para um nível mais avançado de sensibilização quando já tiver assimilado aquele nível em que ele estiver, já estiver pronto para algo mais.

De que maneira você sabe que ele está pronto para avançar? Como se mede isso?

Além dos óculos, o paciente usa eletrodos colocados no dedo indicador e no dedo médio. Uso uma ferramenta de bio-feedback que roda no computador durante toda a sessão e mede o suor, a tensão e a ansiedade, em ondas. Analiso a tendência das variações, se esses sinais estão subindo e em que velocidade. Quando eles começam a estabilizar, significa que ele está pronto para seguir adiante.

E se o desenvolvimento for pelo outro caminho e esses sinais subirem muito e muito rápido?

Daí eu preciso intervir e interromper a simulação. Mas não é abrupto, é bem numa boa. Mando a mensagem por escrito, pela tela dos óculos, que é hora do relaxamento. Começamos a fazer respiração diafragmática, para diminuir o nível de estresse, e um relaxamento muscular progressivo.

Já aconteceu de algum paciente pedir para parar, por estar achando tudo forte demais?

Não, nunca chegou a esse ponto, porque eu sempre consigo controlar pela ferramenta e pelo monitoramento. Por isso é tão importante o acompanhamento atento. Mas já aconteceu de uma paciente relatar que tinha reações fisiológicas muito intensas depois das sessões. Em resumo, ela precisava ir direto para o banheiro. A simulação nos óculos é realmente muito intensa, viva, real.

Nessa parte de realidade virtual, o tratamento fica à mercê do computador? O que acontece se ele falhar?

O funcionamento do programa depende do computador e da internet, sim. É muito raro falhar, muito raro mesmo, mas já aconteceu. Daí parto para o plano B, que é fazer uma sessão convencional de terapia, com hipnose e técnicas de relaxamento. Sempre tenho os planos B e C para as sessões. A tecnologia é maravilhosa, sem dúvida, mas não podemos ficar reféns dela.

Se a parte tecnológica colabora, a realidade virtual é obrigatória em todas as sessões desse tipo de tratamento?

Não, de forma alguma. Há vezes em que a pessoa chega querendo conversar sobre alguma situação que viveu relacionada à sua fobia ou à sua ansiedade, e daí essa será uma sessão de escuta, tradicional. Nada deve ser obrigatório ou linear em terapia.

Que público mais procura tratar suas fobias e ansiedade por meio da realidade virtual? Qual é o perfil mais aberto a essa abordagem?

Mulheres, sem dúvida, porque as mulheres no geral são mais abertas à terapia. Os homens ainda têm um pouco de receio de procurar ajuda, infelizmente. A faixa etária é de jovens profissionais até idosos. O que muda são os motivos da procura. Há quem tenha acabado de entrar em um emprego que vai exigir muitas viagens de avião, e por isso precisa superar a fobia. Há quem não aguente mais ter fobia de insetos, por exemplo, depois de uma vida inteira com isso dentro de si.

Fonte: www.mdemulher.abril.com.br